Visitante Nº

domingo, 31 de outubro de 2010

Enquanto as ondas quebram na praia
Meus pensamentos vêm e se dissolvem
Na areia limpa e vazia
Foram sonhos, desejos, amores
Todos foram e se foram
Enquanto o sol se põe
Meus olhos se enchem de luz
Lágrimas brilhantes refletem
Talvez a solidão, quem sabe a alegria
Do instante precioso
Na graça do perfeito balé de águas marrons
No movimento suave das nuvens passageiras
Tudo ganha sentido
Tudo se faz valer
Cada passo até aqui
Cada tropeço convertido em lição
Todas as manhãs e tardes e noites
Que caminhei na estrada de sonhos
Agora, só por agora
De repente, neste instante
Tudo tem um por que
Inexplicavelmente, cada um toma seu lugar
E meu espírito é invadido de uma paz
Outrora distante
Eu sou o fruto da perfeição
Da felicidade contida em dias amargos
Hoje, mais que qualquer outro dia
Sei que vivo
Compreendo as batidas que sinto no peito
Sei, agora, de onde elas vêm
E o som que reproduzem
Falam de paz, de esperança
Sou tudo que vive
Sou tudo o que preciso
Vivendo, desde hoje
Para todo o sempre
Até o fim do dia.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Atmosfera pesada
Ar rarefeito às minhas narinas
O tempo, demasiadamente, compassado
Me faz perceber que estou saboreando
Cuidadosamente, ao estilo de um degustador profissional
Minha própria morte.
Tragando meu último cigarro
Enchendo meus pulmões de caos
A brisa noturna invade minha sala
Exalando cheiro de folhas secas
Me perco, confundido
No esquecimento da hora passada.
Logo resurjo em pequenas doses
Que penetram minhas veias
Violentando minha pele
Agora arrasada.
Gotas de euforia
Pequena e finita ilusão
Num súbito vôo alucinante
Sou um herói
Numa era apocalíptica
Um redentor do sofrimento
Um cantante de fulgor
Risos desvairados tomam o lugar
Do silêncio sepulcral
Delírios de uma noite morta
Paixão tardia de um animal covarde
Sanidade louca
Fuga da realidade.
Fim da linha tênue
Pouso forçado na pista
De quatro paredes abstratas
Volto ao eu repugnante
Atirado ao pó da solidão
Esvaindo-me em nada
Esperando, pacientemente
O suspiro final
A partida para a ilusão eterna
E libertadora do adeus.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010



La fora as horas passam
Aqui dentro, me afundo na solidão amarga
Me perco em pensamentos mortíferos
Sem lágrimas ou sangue
Reconheço o que não poderia ser vida ou morte
Um silêncio sepulcral invade este campo
Permaneço em mim
E ele vem, por dentre a penumbra
Escondido nas sombras
Seu beijo tem gosto de trevas
Seus olhos brilhantes me enfeitiçam
Já não sei o que foi ou que virá
Perdido em uma dimensão infernal
Clamo piedade, em desespero mortal
Já não vivo, já não sou eu
Um espírito só
Vagando dentre sepulturas
Exalando odor pútrido
Trôpego entre cadáveres dilacerados
E esquecidos na vergonha do fim
As feras me perseguem
E a noite soturna
Me acalenta na bruma da morte
Os sons da partida adormecem o que ainda se faz vivo
E um abismo que se dimensiona
Hora a hora
Me separa da realidade
Desgraçado na imundice
Viajo na imensidão da morte
Para o fim de todos os lamentos
Até os séculos.