Visitante Nº

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Atmosfera pesada
Ar rarefeito às minhas narinas
O tempo, demasiadamente, compassado
Me faz perceber que estou saboreando
Cuidadosamente, ao estilo de um degustador profissional
Minha própria morte.
Tragando meu último cigarro
Enchendo meus pulmões de caos
A brisa noturna invade minha sala
Exalando cheiro de folhas secas
Me perco, confundido
No esquecimento da hora passada.
Logo resurjo em pequenas doses
Que penetram minhas veias
Violentando minha pele
Agora arrasada.
Gotas de euforia
Pequena e finita ilusão
Num súbito vôo alucinante
Sou um herói
Numa era apocalíptica
Um redentor do sofrimento
Um cantante de fulgor
Risos desvairados tomam o lugar
Do silêncio sepulcral
Delírios de uma noite morta
Paixão tardia de um animal covarde
Sanidade louca
Fuga da realidade.
Fim da linha tênue
Pouso forçado na pista
De quatro paredes abstratas
Volto ao eu repugnante
Atirado ao pó da solidão
Esvaindo-me em nada
Esperando, pacientemente
O suspiro final
A partida para a ilusão eterna
E libertadora do adeus.

3 comentários:

  1. "...O tempo, demasiadamente, compassado
    Me faz perceber que estou saboreando
    Cuidadosamente, ao estilo de um degustador profissional
    Minha própria morte."

    adorei essa parte! muito lindo.

    ResponderExcluir
  2. A vida já é pesada demais, a morte deveria ser leveza, talvez até, levemente doce...mas o fato que o momento descrito não é a morte em si, mas todo o peso da vida concentrado em um último momentos...adorei suas palavras, gostei mesmo...um abraço...
    http://estevespensando.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. um adeus, doloroso e libertador.

    http://terza-rima.blogspot.com/

    ResponderExcluir